segunda-feira, 28 de junho de 2010

O PREÇO DA DECISÃO

          É natural a todo o ser humano nascer, crescer, desenvolver seus dons produzindo algo que seja útil e, por fim, encerrar sua vida neste mundo e passar para o definitivo e eterno que para muitos é desconhecido, mas para outros é o melhor e o mais precioso, pois será premio pelo modo de viver que realizou. 
           É certo que ninguém nasce por decisão própria. Ninguém escolhe onde e de quem nascer. Não escolhe a cor, o sexo e a pátria. É um simples e maravilhoso fruto da união de um homem e uma mulher. Não é decisão pessoal. Mas na medida em que for crescendo nascem as responsabilidades e aparecem as exigências e será preciso decidir a cada passo.
            Começa o caminho das decisões. Não há como ficar indiferente ou deixar a vida acontecer. É um contínuo desprender do passado, superando tradições, vencendo comodismos e arriscando uma constante decisão para conquistar a liberdade em toda sua riqueza e em toda sua responsabilidade.
            Jamais a decisão poderá ser fruto de uma emoção. Necessita de uma postura equilibrada da razão. Caso contrário surgirão conseqüências muitas vezes desastrosas justamente por não ter pensado, refletido e calculado melhor. É sempre bom não ter pressa para não precipitar algo que poderia ser muito válido e muito precioso e que essa precipitação pos tudo a perder.
            O Mestre dos mestres se encontrava a caminho de Jerusalém. Muitos discípulos e admiradores o seguiam. E ele ia ensinando muitas coisas importantes. Entre elas mostrava o caminho para quem pretendesse unir-se a seus planos e seus projetos. Mostrava ainda as dificuldades que enfrentaria, as incompreensões e até a rejeição de muitos que não aceitavam sua doutrina.
            Assim mesmo entre esses seguidores havia alguns mais corajosos, ou até mais afoitos. Um deles se aproximou e disse: “Eu te seguirei para onde quer que fores”. Mas o Mestre respondeu: “As raposas tem tocas e os pássaros têm ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça” (Lc.9,57-58).
            Não basta o entusiasmo. Não é suficiente o encanto e menos ainda a emoção do momento. É preciso ter a cabeça no lugar. É preciso pensar com a mente livre, serena e equilibrada. Já existem muitos seres humanos caídos à margem da vida. Tomaram decisões precipitadas e agora não têm como se recompor, como recuperar os sonhos perdidos e os projetos destruídos.
            O Mestre procurou advertir que para tomar uma decisão daquela dimensão, daquela grandeza, era necessário ponderar com seriedade o caso. Pois segui-lo não era tão fácil como alguns imaginavam. Teriam que examinar bem as exigências.          
Os animais e os pássaros têm como se agasalhar por estarem em seu habitat natural. E esse era a segurança deles. Mas seguir o Mestre significaria não ter lugar fixo e nem seguro. Significaria não poder contar com o conforto e com a tranqüilidade. Significaria pôr-se a caminho.
            É preciso estar sempre a caminho. Não pode parar. Não pode se acomodar. Mas caminhar olhando sempre em frente. Olhar para trás é não acreditar naquilo que escolheu, naquilo que assumiu.

Frei Venildo Trevizan.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

O PODER DOS DONS

Depois de tantos milênios de convivência humana ainda temos que nos perguntar: Por que ainda existem conflitos entre nações, entre etnias e entre pessoas? Por que ainda persistem as guerras, a fome e a miséria?

            Poderíamos prolongar esses questionamentos em muitas dimensões e em muitos ambientes que continuam demonstrando o quanto o ser humano pode se tornar mesquinho em posse de tantos dons e tantos talentos. Aquilo que poderia mudar a face da terra ensangüentada em terra de flores infelizmente está se tornando monopólio de uns poucos que se constituem donos do mundo e das riquezas.

            Não é assim que Deus quer. O apostolo Paulo em seu entusiasmo evangelizador nos diz: “Cada um recebe o dom de manifestar o Espírito para a utilidade de todos. A um o Espírito dá a palavra da sabedoria; a outro a palavra da ciência segundo o mesmo Espírito; a outro o Espírito dá o dom da fé; a outro o dom das curas; a outro o poder de fazer milagres; a outro a profecia; a outro o discernimento dos espíritos; a outro o dom de falar em línguas; a outro ainda o dom de interpretá-las” (ICor.12,7-10).

            Esse Espírito de Deus é quem concede tudo isso distribuindo seus dons a quem se propuser usar para melhor servir a comunidade. Não são para proveito próprio e nem para a própria santificação ou salvação. Pois a santificação e a salvação dependem do empenho com que se dedica na edificação do Reino de Deus, mediante uma ação transformadora junto à sociedade.

            É bom saber que é mediante o serviço prestado a favor dos empobrecidos que irá constituindo o caminho que conduz à plenitude da comunhão com Deus. A Deus ninguém chega sozinho. Há um caminho. E esse caminho é feito de solidariedade e partilha fraterna, de ações a favor da justiça e da verdade, de compromisso com o bem e com a ética.

            É assim que o mundo poderá se organizar para viver em profundidade os ensinamentos que o Mestre dos mestres revelou como provindos do amor e da sabedoria do Pai. E esse Pai ama seus filhos e filhas na totalidade da perfeição. Ninguém ama o tanto e o como ele ama. E ele é ciumento. Não quer perder ninguém.

            Se alguém o abandonar, ele continua amando. Se alguém o negar ele perdoa. Se alguém o trair, ele suporta pacientemente. Não tem pressa e não é exigente. Sabe aguardar e sabe que haverá um momento de reencontro e de celebração alegre e fraterna de uma nova comunhão.

            Nem todos pensam num Deus assim. Nem todos crêem num Deus assim. Nem todos comungam um Deus assim. Quem descobrir essa maravilha certamente passará a viver mais seguro e mais feliz. E saberá ser impossível descrever e enumerar os dons que dele recebe.

            E verá que a generosidade de Deus supera toda e qualquer criatividade humana. E sentirá o quanto é maravilhoso deixar-se iluminar por seus ensinamentos e deixar-se guiar por seus dons. Dons que formam em sua diversidade a beleza e a grandeza da convivência entre os seres humanos e com o próprio Deus.

            Essa diversidade enriquecerá a comunidade na medida em que cada qual se dispuser a contribuir para a comunhão de todos no mesmo ideal de viver na presença amorosa de Deus.


Artigo do Frei Venildo Trevizan, pároco da Paróquia Universitária.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Por que nos encontramos constantemente em situação de pecado?

Às vezes os nossos pecados nos desanimam e decepcionam. Nos fazem duvidar  se realmente é possível ser santo. Vamos refletir então. Aceitamos os mandamentos, recebemos os sacramentos e até evangelizamos e ainda assim tendemos ao pecado. Desde antes da vinda de Jesus o povo escolhido por Deus como nação santa transgrediu os mandamentos, desagradando a Deus. Davi depois de ser abençoado por Deus resolveu tomar a mulher de Urias e matá-lo. O discípulo Simão Pedro, depois de tanto seguir Jesus, o negou 3 vezes. Como vemos muitos já passaram por isso.
Jesus veio ao mundo para mostrar o perdão e a misericórdia. Seu jeito simples e amoroso conquistou os pecadores. Trouxe nova vida a eles quando disse “ninguém te condenou, nem eu te condeno, vai e não tornes a pecar”.  “tua fé te salvou”
O pecado serve para nos lembrar que somos fracos e precisamos de Deus. Cada vez que pecamos temos a oportunidade de nos reconciliar com Deus. Pois onde abundou o pecado, superabundou a graça. (Rom 5,20) A graça de sentir o amor do pai que perdoa o filho.
Aqueles que se julgavam muito bons não receberam desta graça. O orgulho não deixa sentir tanto amor. Pois por maior que seja a queda, Deus é pai misericordioso e maior ainda é a festa no céu quando você se levanta.
As tentações são necessárias. Elas nos fazem “baixar a crista”, fechar os olhos, e enxergar como somos ainda pequenos. Deixar de lado o orgulho de fariseu e reconhecer-se pecador. Isso deve nos levar a humildade, que não julga, mas busca sempre melhorar pra Deus. Quanto menores nós somos, mais precisamos de Deus e Ele se torna maior em nossas vidas.
Podemos pensar: “Se fomos salvos por Cristo, libertos do pecado, permaneceremos então no pecado, para que haja abundância da graça!” Então Paulo escreve: De modo algum. Nós, que já morremos ao pecado, como poderíamos ainda viver nele?” (Rom 6, 12). Nós não podemos nos condenar a afundar no pecado, pois com Jesus podemos ser resgatados. A fé em Jesus Cristo gera salvação.

 Morrer para o pecado é um processo que exige perseverança no jejum , na oração e na leitura da palavra. Eles são armas que fortalecem o espírito e fazem que ele sobreponha-se a carne. Pois o espírito forte resiste às tentações. Não pense que por isso vai se ver livre delas. As tentações são colocadas a nossa frente para que provemos que nosso amor a Deus é maior que os desejos da carne, tirar de nós o orgulho e para garantir que a busca pela vida eterna continue aumentando em nós.

Viver o plano de Deus é uma decisão diária. O sacramento da reconciliação nos dá a chave do reino dos céus. Não desista, você tem tudo pra chegar lá, e Deus nos espera na glória.

Millena Vasconcelos, estudante de Engenharia Civil da UFG, membro do grupo de oração universitário da ParUSJE. (www.twitter.com/millenarcc)

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Será que Eu Tenho Vocação?

Essa pergunta em nossos dias deixa a maioria dos jovens inquietos e desnorteados. Há outro modo de questionar a mesma realidade, de fato o mais correto: a qual vocação Deus está me chamando? Essa é a nossa realidade, todos somos chamados a abraçar voluntariamente e com amor um estilo de vida proposto por Deus.

“O desejo de Deus é um sentimento inscrito no coração do homem, porque o homem foi criado por Deus e para Deus. Deus não cessa de atrair o homem para Si e só em Deus é que o homem encontra a verdade e a felicidade que procura sem descanso” (Catecismo da Igreja Católica, 27). Verificamos que a vocação à qual Deus nos chama desde o momento da nossa concepção até a nossa morte é precisamente o encontro com a verdade e possessão da felicidade: Deus. Amar é a vocação de todos os homens desde o primeiro momento da criação (cf. At 17, 26-28). “Esse é o meu mandamento: que ameis uns aos outros assim como eu vos tenho amado” (cf. Jo 15, 12). Esse mandato também faz parte do nosso chamado: amar os homens, nossos irmãos em Cristo, como Deus os tem amado. Agora podemos resumir o significado da realidade que a palavra vocação expressa: amar Deus e os homens, encontrar a verdade e ser felizes.

Se isso é vocação, então porque se fala de vocação somente àquela que se refere seja à vida consagrada ou ao sacerdócio?

O propósito dessas linhas não é desmentir o uso restrito da palavra vocação, senão expor o significado mais amplo dessa realidade comum a todos. Porém o uso comum de vocação se refere ao seguimento específico da Vocação, ou seja, o modo em que seguimos o chamado da nossa existência. Daí vem os possíveis caminhos ou maneiras, ou seja, vocações, de seguir a Vocação (aquela mais ampla que referimos anteriormente): o sacerdócio, o matrimônio, a vida religiosa e consagrada e a vida solteira.

Após essa breve e simples exposição em que consistem a Vocação e vocações, uma dúvida não pode passar despercebida: como se discerne o caminho ou maneira que Deus quer que O responda e O siga? Como eu, com minha vida atarefada e corrida, vislumbro a vocação específica a que Deus me está chamando? A resposta está na oração. Mas por que a oração? Não é chata? Não é seca? Não seria melhor pesquisar no meu Google?

Deus é quem chama; se Ele chama temos que escutá-lO de alguma maneira. Como? Onde? “O homem anda à procura de Deus. Pela criação, Deus chama todos os seres do nada à existência”. “Mas é Deus que primeiro chama o homem”. “À medida que Deus Se revela e revela o homem a si mesmo, a oração surge como um apelo recíproco, um drama de aliança” (cf. 2566 e 2567 do Catecismo da Igreja Católica). É na oração onde nós encontramos o Deus que nos procura num apelo mútuo. Por um lado, fomos criados para amar e buscamos a melhor maneira de saciar este desejo. Por outro lado, Deus quer nos saciar e espera que nós vamos até Ele na Eucaristia, nas orações organizadas na paróquia, num grupo de oração e, sobretudo no nosso dia-a-dia quando na nossa consciência, o recanto mais profundo da nossa intimidade, escutamos aquela voz: “Onde estás?” (Gn 3, 9) e onde respondemos: «Eis que venho, [...] ó Deus, para fazer a tua vontade» (Heb 10, 7).

Paulo Afonso dos S. Tavares é acadêmico de Jornalismo na PUC – GO, e coordenador da Pastoral da Juventude de Trindade e catequista de Crisma. (http://twitter.com/pa_jornalista)

Artigo publicado no Diario da Manhã do dia 11 de Junho de 2010.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

"Do mundo" ou "de Deus"?

O cristão pode ir ao cinema? Pode usar boné na igreja? Pintar o cabelo de azul, amarelo, vermelho, rosa-rosa, verde? O homem pode usar brinco ou deixar o seu cabelo crescer? Pode dançar forró, reggae, dance, funk, rock, etc? Pode ir em festas ditas “do mundo”?
Como podemos caracterizar algo como sendo “do mundo” ou “de Deus”? Computador é “do mundo”?

Máquina de datilografar é “de Deus”? Novela é “do mundo”? Filme é “de Deus”? Festas com bebidas e sons exagerados são “do mundo”? Reuniões pequenas são “de Deus”? Percebem o quanto é difícil fazer uma classificação a esse respeito. 


Tudo vai depender da intenção do coração e do contexto onde tal prática está inserida.
Uma determinada festa pode ser considerada boa ou ruim aos olhos de alguém, mas nem por isso pode ser rotulada como festa “de mundo” e algo que seja pecaminoso.

O que fazer nesse caso então? Cada um siga sua própria consciência, iluminada por uma fé autêntica e não rejeite seu irmão por pensar de forma diferente.

Entendemos que essas e outras discussões não são incluídas no Evangelho, que é muito simples e que em sua essência é amar a Deus e ao próximo.

Não podemos limitar o ensinamento do cristianismo em listas permitidas e não permitidas para nós Cristãos.

A prática de usos e costumes fora da igreja, ou mesmo dentro dela, nunca contribuiu para a salvação ou santificação de alguém. Regras e tradições humanas mudam apenas o exterior, enquanto Deus está preocupado em mudar o coração.

Então leia a Bíblia, seja intimo com Deus, busque-o. Somente ele vai dizer o que “pode” ou o que “não pode”, se convém ou não convém. Não temos o direito de impor nossas opiniões. Algumas coisas são pessoais, ou seja, enquanto é pecado para alguns, é totalmente lícito para outros.

Julgar, falar mal, estas sim são atitudes mundanas que, com certeza, entristecem de maneira bastante significativa o coração do Senhor.

Não devemos perder tempo com discussões que não nos levarão a nada. Ao nosso redor há muitas pessoas precisando do nosso apoio e de salvação. Concentre-se nisso. “Ide e pregai o Evangelho a toda criatura”. Não perca a vontade de seguir o caminho do bem.

Como diz uma passagem da música de autoria do Renato Russo: “É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã...” Coloquemos isso em prática.


Lorena Neri Meira de Oliveira, natural de Trindade, Advogada.