quarta-feira, 23 de junho de 2010

O PODER DOS DONS

Depois de tantos milênios de convivência humana ainda temos que nos perguntar: Por que ainda existem conflitos entre nações, entre etnias e entre pessoas? Por que ainda persistem as guerras, a fome e a miséria?

            Poderíamos prolongar esses questionamentos em muitas dimensões e em muitos ambientes que continuam demonstrando o quanto o ser humano pode se tornar mesquinho em posse de tantos dons e tantos talentos. Aquilo que poderia mudar a face da terra ensangüentada em terra de flores infelizmente está se tornando monopólio de uns poucos que se constituem donos do mundo e das riquezas.

            Não é assim que Deus quer. O apostolo Paulo em seu entusiasmo evangelizador nos diz: “Cada um recebe o dom de manifestar o Espírito para a utilidade de todos. A um o Espírito dá a palavra da sabedoria; a outro a palavra da ciência segundo o mesmo Espírito; a outro o Espírito dá o dom da fé; a outro o dom das curas; a outro o poder de fazer milagres; a outro a profecia; a outro o discernimento dos espíritos; a outro o dom de falar em línguas; a outro ainda o dom de interpretá-las” (ICor.12,7-10).

            Esse Espírito de Deus é quem concede tudo isso distribuindo seus dons a quem se propuser usar para melhor servir a comunidade. Não são para proveito próprio e nem para a própria santificação ou salvação. Pois a santificação e a salvação dependem do empenho com que se dedica na edificação do Reino de Deus, mediante uma ação transformadora junto à sociedade.

            É bom saber que é mediante o serviço prestado a favor dos empobrecidos que irá constituindo o caminho que conduz à plenitude da comunhão com Deus. A Deus ninguém chega sozinho. Há um caminho. E esse caminho é feito de solidariedade e partilha fraterna, de ações a favor da justiça e da verdade, de compromisso com o bem e com a ética.

            É assim que o mundo poderá se organizar para viver em profundidade os ensinamentos que o Mestre dos mestres revelou como provindos do amor e da sabedoria do Pai. E esse Pai ama seus filhos e filhas na totalidade da perfeição. Ninguém ama o tanto e o como ele ama. E ele é ciumento. Não quer perder ninguém.

            Se alguém o abandonar, ele continua amando. Se alguém o negar ele perdoa. Se alguém o trair, ele suporta pacientemente. Não tem pressa e não é exigente. Sabe aguardar e sabe que haverá um momento de reencontro e de celebração alegre e fraterna de uma nova comunhão.

            Nem todos pensam num Deus assim. Nem todos crêem num Deus assim. Nem todos comungam um Deus assim. Quem descobrir essa maravilha certamente passará a viver mais seguro e mais feliz. E saberá ser impossível descrever e enumerar os dons que dele recebe.

            E verá que a generosidade de Deus supera toda e qualquer criatividade humana. E sentirá o quanto é maravilhoso deixar-se iluminar por seus ensinamentos e deixar-se guiar por seus dons. Dons que formam em sua diversidade a beleza e a grandeza da convivência entre os seres humanos e com o próprio Deus.

            Essa diversidade enriquecerá a comunidade na medida em que cada qual se dispuser a contribuir para a comunhão de todos no mesmo ideal de viver na presença amorosa de Deus.


Artigo do Frei Venildo Trevizan, pároco da Paróquia Universitária.

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