sábado, 27 de março de 2010

A Vigília Pascal

"Segundo uma antiquíssima tradição, esta é a noite de vigília em honra do Senhor (Ex 12, 42). Os fiéis, tal como recomenda o evangelho (Lc 12, 35-36), devem a semelhar se aos criados, que com as lâmpadas acesas nas mãos, esperam o retorno do seu senhor, para que quando este chegue os encontre velando e os convide a sentar à sua mesa" (Missal Romano, pg. 275).

Esta Noite Pascoal tem, como toda celebração litúrgica duas partes centrais:

- A Palavra: Nesta celebração as leituras são mais numerosas (nove, ao invés das duas ou três habituais).
- O Sacramento: Esta noite, depois do caminho quaresmal e do catecumenato, se celebram, antes da Eucaristia, os sacramentos da iniciação cristã: o Batismo e a Crisma.

Assim, os dois momentos centrais se revestem de um acento especial: se proclama na Palavra a salvação que Deus oferece à humanidade, atingindo o ápice com o anúncio da ressurreição do Senhor.

E logo celebra-se sacramentalmente esta mesma salvação, com os sacramentos do Batismo, da Crisma e da Eucaristia. A tudo isso também antecede um especial rito de entrada constando do rito da luz, que brilha em meio à noite, e o pregão Pascoal, lírico e solene.

A Páscoa do Senhor, nossa Páscoa.

Todos estes elementos especiais da Vigília querem ressaltar o conteúdo fundamental da Noite: a Páscoa do Senhor, a sua passagem da Morte à Vida.

A oração ao início das leituras do Novo Testamento invoca a Deus, que "ilumina esta noite santa com a gloria da ressurreição do Senhor". Nesta noite, com mais razão que em nenhum outro momento, a Igreja louva a Deus porque "Cristo, nossa Páscoa, foi imolado". (Prefácio I de Páscoa).

Porém a Páscoa de Cristo é também a nossa Páscoa: "na morte de Cristo nossa morte foi vencida e em sua ressurreição resuscitamos todos" (Prefácio II de Páscoa).

A comunidade cristã se sente integrada, "contemporânea da Passagem de Cristo através da morte à vida". Ela mesma renasce e goza na "nova vida que nasce destes sacramentos pascoais" (oração sobre as ofertas da Vigília): pelo Batismo se submerge com Cristo em sua Páscoa, pela Confirmação recebe também ela o Espírito da Vida, e na Eucaristia participa do Corpo e Sangue de Cristo, como memorial de sua morte e ressurreição.

Os textos, orações, cantos todos apontam a esta gozosa experiência da Igreja unida ao seu Senhor, centralizada nos sacramentos pascoais. Esta é a melhor chave para a espiritualidade cristã, que deve centralizar-se mais que na contemplação das dores de Jesus (a espiritualidade da Sexta-feira Santa é a mais fácil de assimilar), na comunhão com o Resuscitado dentre o os mortos.

Cristo, ressuscitando, venceu a morte.

Este é na verdade "o dia que o Senhor fez para nós". O fundamento de nossa Fe. A experiência decisiva de que a Igreja, como Esposa unida ao Esposo, recorda e vive cada ano renovando sua comunhão com Ele, na Palavra e nos Sacramentos desta Noite.

Luz de Cristo

O fogo novo é abençoado em silêncio, depois, se toma parte do carvão abençoado e colocado no turíbulo, se coloca então o incenso e se incensa o fogo três vezes. Mediante este rito singelo a Igreja reconhece a dignidade da criação que o Senhor resgata.

A cera, à sua vez, resulta agora uma criatura renovada. Devolver-se-á ao círio o sagrado papel de significar ante os olhos do mundo a glória de Cristo Resuscitado. Por isso se grava em primeiro lugar a cruz no círio. A cruz de Cristo devolve a cada coisa seu sentido. Por isso o Canon Romano diz: "Por Ele (Cristo) segues criando todos os bens, os santificas, os enche de vida, os abençoas e repartes entre nós".

Ao gravar na cruz as letras gregas Alfa e Ômega e as cifras do ano em curso, o celebrante proclama: "Cristo ontem e hoje, Princípio e Fim, Alfa e Ômega. Dele é o tempo. E a eternidade. A ele a gloria e o poder. Pelos séculos dos séculos. Amém".

Assim expressa com gestos e palavras toda a doutrina do império de Cristo sobre o cosmos, exposta em São Paulo. Nada escapam da Redenção do Senhor, e tudo, homens, coisas e tempo estão sob sua potestade.

O Círio é decorado com grãos de Incenso, que segundo uma tradição muito antiga, que passaram a significar simbolicamente as cinco chagas de Cristo: "Por tuas chagas santas e gloriosas nos proteja e nos guarde Jesus Cristo nosso Senhor".

Termina o celebrante acendendo o fogo novo, dizendo: "A luz de Cristo, que resuscita glorioso, dissipe as trevas do coração do e do espírito".

Após acender o círio que representa a Cristo, a coluna de fogo e de luz que nos guia a través das trevas e nos indica o caminho à terra prometida, avança a procissão dos ministros. Enquanto a comunidade acende as suas velas no Círio recém aceso se escuta cantar três vezes: "Luz de Cristo".

Estas experiências devem ser vividas com uma alma de criança, singela, mas vibrante, para estar em condições de entrar na mentalidade da Igreja neste momento de júbilo. O mundo conhece demasiado bem as trevas que envolvem a sua terra em desgraça e tormento. Porém, nesta hora, se pode dizer que sua desventura atraiu a misericórdia e que o Senhor quer invadir a toda realidade com torrentes de sua luz.
Já os profetas haviam prometido a luz: "O Povo que caminha em meio às trevas viu uma grande luz", escreve Isaías (Is 9,1; 42,7; 49,9). Esta luz que amanhecerá sobre a Nova Jerusalém (Is 60,1ss.) será o próprio Deus vivo que iluminará aos seus e seu Servo será a luz das nações (Is 42,6; 49,6).

“O catecúmeno que participa nesta celebração da luz sabe por experiência própria que desde seu nascimento está em meio às trevas; mas tem o conhecimento de que Deus o chamou para sair das trevas e a entrar em sua luz maravilhosa” (1 Pd 2,9). Dentro de uns momentos, na pia batismal, "Cristo será sua luz" (Ef 5, 14). Passará das trevas à "luz no Senhor" (Ef 5,8).

A liturgia da Palavra

Esta noite a comunidade cristã se detém mais que o usual na proclamação da Palavra. Tanto o Antigo como o Novo Testamento falam de Cristo e iluminam a História da Salvação e o sentido dos sacramentos pascoais. Há um diálogo entre Deus que se dirige ao seu Povo (as leituras) e o Povo que Lhe responde (Salmos e orações).

As leituras da Vigília têm uma coerência e um ritmo entre elas. A melhor chave é a que nos deu o próprio Cristo: “... e começando por Moisés e por todos os profetas, os interpretou (aos discípulos de Emaús) em todas as Escrituras o que a ele dizia respeito” (Lc 24, 27).

Leituras do Antigo Testamento

• Primeira leitura: Gn 1,1-2,2 ou 1,1.26-31a - Viu Deus que tudo o que tinha feito era bom.
• Segunda leitura: Gn 22,1-18 ou 1-2.9a.10-13.15-1 O sacrifício de Abraão, nosso pai na fé.
• Terceira leitura Ex 14-15,1 - Os israelitas cruzaram o mar Vermelho.
• Quarta leitura: Is 54,5-14 - Com misericórdia eterna te ama o Senhor, teu redentor.
• Quinta leitura: Is 55, 1-11 - Vinde a mim, e vivereis; firmarei convosco uma aliança perpétua.
• Sexta leitura: Br 3,9-15.32-4,4 - Caminhai na claridade do resplendor do Senhor.
• Sétima leitura: Ez 36.16-28 - Derramarei sobre vós uma água pura, e vos darei um coração novo.

É importante destacar esta passagem ao Novo Testamento: o Missal indica neste momento diversos símbolos, tais como a decoração do altar (luzes, flores), o canto do Glória e a aclamação do Aleluia antes do Evangelho. Também se ilumina de maneira mais plena a Igreja, já que durante as leituras do Antigo Testamento deve estar iluminada de maneira discreta.

Sobretudo o evangelho, tomado de um dos três sinóticos, de acordo com o Ciclo, é o que deve destacar-se: se trata do cumprimento de todas as profecias e figuras, proclama a Ressurreição do Senhor.

Leituras do Novo Testamento

Primeira leitura: Rm 6,3-11 - Cristo uma vez ressuscitado dentre os mortos, já não morre.

Evangelho

CICLO A: Mt 28.1-10 - Resuscitou e vos precede em Galiléia.
CICLO B: Mc 16, 1-17 - Jesus de Nazaré, o que foi crucificado, ressuscitou.
CICLO C: Lc 24.1-12 - Por que buscam entre os mortos ao que está vivo.

A liturgia batismal

A noite de Páscoa é o momento no qual tem mais sentido celebrar os sacramentos da iniciação cristã.
Depois de um caminho pelo catecumenato (pessoal, se é que se trata de adultos e da família, para as crianças, e sempre no diz respeito, da comunidade cristã inteira), o símbolo da água -a imersão, o banho- busca ser a expressão sacramental de como uma pessoa se incorpora a Cristo na sua passagem da morte à vida.

Como diz o Missal, se é que se trata de adultos, esta noite é quando tem pleno sentido que além do Batismo também se celebre a Confirmação, para que o neófito se integre plenamente à comunidade eucarística. O sacerdote que preside nesta noite tem a faculdade de conferir também a Confirmação, para fazer visível a unidade dos sacramentos da iniciação.

A celebração consta dos seguintes elementos:

• A ladainha dos santos (se ocorre um batizado), de acordo com a sugestão do Missal;
• A bênção da água se trata, sobretudo de bendizer a Deus por tudo o que fez por meio da água ao longo da História da Salvação (desde a criação e a passagem pelo Mar Vermelho até o Batismo de Jesus no Jordão), implorando-lhe que hoje também este sinal atualize o Espírito de vida sobre os batizados;
• O Batismo e a Confirmação segundo seus próprios rituais;
• A renovação das promessas batismais, se não se realizou a celebração do Batismo, (do contrário já a realizaram junto com os batizados e seus padrinhos). Trata-se de que todos participem conscientemente tanto na renúncia como na profissão de fé;
• O sinal da aspersão, com um canto batismal, como recordação plástica do próprio Batismo. Este sinal pode se repetir todos os domingos do Tempo Pascoal, ao início da Eucaristia;
a Oração universal ou oração dos fiéis, que é o exercício, por parte da comunidade, do seu sacerdócio batismal intercedendo perante Deus por toda a Humanidade.

A Eucaristia

A celebração Eucarística é o ápice da Noite Pascoal. É a Eucaristia central de todo o ano, mais importante que a do Natal ou da Quinta-feira Santa. Cristo, o Senhor Ressuscitado, nos faz participar do seu Corpo e do seu sangue, como memorial da sua Páscoa.
É o ponto mais importante da celebração.

Paulo Afonso dos Santos Tavares é acadêmico de Jornalismo na PUC – GO, e coordenador da Pastoral da Juventude de Trindade, e catequista de Crisma.

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